Vamos falar sobre confiança?

Ambientes mais seguros são ambientes de maior confiança interpessoal. 

Clive Lloyd, psicólogo australiano especializado em segurança psicológica, bem-estar e locais de trabalho mentalmente saudáveis, escreve um de seus artigos correlacionando um fator chave para que as organizações sejam capazes de avançar seu nível de Cultura de Segurança. Ele apresenta que estudos realizados na última década apontam para a confiança como um fator preditor chave para o desempenho em segurança e um componente essencial para culturas de segurança eficazes. Os resultados destes estudos demonstram que quanto mais os colaboradores confiam na sua liderança, mais estarão comprometidos com comportamentos seguros. Enquanto a falta de confiança gera baixo senso de responsabilização individual e compromisso com a segurança. 

Um estudo de 2012 na área de mineração da Austrália, demonstrou que “… a menos que a desconfiança da força de trabalho possa ser superada, mesmo as iniciativas de gestão e liderança mais bem intencionadas e sofisticadas serão tratadas com cinismo pela força de trabalho”

Partindo dessas evidências que endossam a importância de observarmos e cuidarmos do aspecto da confiança interpessoal dentro de nossas empresas, fica uma pergunta:

Como podemos construir confiança?

Um dos modelos mais usuais, em especial na área de segurança do trabalho, é de Mayer et al (1995) que sugere que a confiança é baseada na percepção das pessoas sobre três fatores principais: 

Habilidade: como as pessoas percebem as competências e habilidades técnicas da liderança para exercer o cargo que ocupa. 

Integridade: como as pessoas percebem seus líderes em termos de abertura ao diálogo, transparência na comunicação, disponibilidade para escuta, coerência entre discurso e ações. 

Cuidado/ Benevolência: como as pessoas percebem que seus líderes demonstram que se interessam de forma genuína pela sua vida e integridade física (muito mais do que pelos resultados de produtividade)

Os três fatores funcionam como um verdadeiro tripé de sustentação para manter níveis de confiança interpessoal elevados. Mas curiosamente os estudos demonstram que um desses três fatores foi considerado o mais poderoso quando se trata de superar a desconfiança e ajudar uma organização a avançar para níveis mais elevados de cultura de segurança: o cuidado/benevolência. 

Portanto, para que os colaboradores realmente se engajem nas iniciativas de segurança e suas ferramentas de gestão tão bem planejadas e implantadas, primeiro precisam sentir e acreditar que de fato a organização, por meio de seus líderes, realmente se preocupa com o seu bem-estar.

Tripé da Confiança e Avanço de Cultura de Segurança

É comum encontrar empresas que estão há anos entre níveis de maturidade reativo e calculativo, progredindo e regredindo à medida que mudam os seus líderes e figuras de autoridade, sem conseguir avançar para níveis mais elevados. 

Mais uma prova de que a implantação de sistemas, sistematização do trabalho, gestão de dados, não é o suficiente para entrega de resultados sustentáveis e tampouco para avanço da cultura de segurança. A adesão e engajamento da força de trabalho só é alcançada quando estes aspectos de confiança são observados e trabalhados de forma consistente dentro das organizações. 

Como você tem olhado para o aspecto de confiança interpessoal na sua organização?

Referências:
https://www.gystconsulting.com.au/articles/ acessado em 15/09/2021
Mayer, RC, Davis, JH e Schoorman, FD, (1995). Um modelo integrador de confiança organizacional. Academy of Management Review 20, 709–734