Vamos falar sobre atitude.

No último artigo aprendemos que o conceito de comportamento (a partir da ciência da psicologia) é diferente do que compreendemos e costumamos utilizar no cotidiano, como se fosse algo para atribuir culpa ou responsabilidade ao indivíduo que faz uma ação. Você pode ler o artigo que explica melhor este conceito aqui.

Muitas vezes, ao utilizar o termo “comportamento” para tentar dizer que a pessoa deveria ter feito outra escolha ao agir, no fundo estamos desejando que as pessoas tenham mesmo é atitude – que é o assunto deste artigo. 

O que diferencia comportamento de atitude?

Aprendemos que o comportamento de uma pessoa é altamente influenciado pelo contexto em que ela está inserida, ou seja, não é um fator de escolha consciente do indivíduo. O nosso sistema neurológico funciona a partir de um sistema automatizado (límbico), que opera de modo contínuo. Nesse sistema, nossas ações “padrão” se pautam no que a maioria das pessoas ao nosso redor estão fazendo dentro de determinado contexto/ambiente. Isso significa dizer que, na maior parte do tempo, as nossas ações operam a partir de um funcionamento que traga o mínimo esforço para o nosso cérebro. Para isso, as pessoas imitam o que a maioria faz e/ou agem conforme o que é permitido ou valorizado dentro de determinado contexto. 

Para escapar desse funcionamento “padrão”, é necessário acionar uma outra parte do nosso cérebro, chamado de neocortex, que é onde funciona o sistema responsável por fatores como a consciência, aprendizagem, planejamento e criatividade. Quando a ação de alguém parte de um processo intencional em que houve uma reflexão, um planejamento e faz sentido para ela, nós passamos a chamar esta ação de atitude. E, neste caso, pode-se afirmar que é uma escolha do indivíduo.

Fórmula da ATITUDE

Se eu pudesse descrever a atitude em uma fórmula, seria a seguinte:

ATITUDE = PENSAR + SENTIR + AGIR

Pensar, sentir e agir numa mesma direção em determinado assunto é o que muitos desejam encontrar nas práticas de trabalho: que as pessoas consigam ser menos “maria vai com as outras” e consigam refletir e tomar ações que sejam fruto de uma consciência e de um sentir sobre determinadas situações. A intencionalidade da ação é o que caracteriza a atitude. 

E para isso, é fundamental que as práticas de reflexão e de processos de aprendizagem sejam altamente estimuladas dentro dos ambientes organizacionais. Sem falar que tudo isso precisa estar imerso em uma cultura que garanta segurança psicológica das pessoas envolvidas.  

ATITUDE na prática

Entendido este conceito do ponto de vista teórico, vamos à prática: como eu sei que a ação de uma pessoa é um comportamento ou uma atitude? 

“Fulano é um cara de atitude!” 

Ao se referir a alguém dizendo que essa pessoa tem atitude, normalmente você está observando algo na ação dessa pessoa que a destaca das demais. Ela faz algo que demonstra que ela pensa e sente diferente do que a maior parte das pessoas está fazendo – e isso a destaca. 

Quando você está diante de uma pessoa com atitude em relação a algum tema, conseguirá notar consistência nos argumentos das suas falas e ações e vai perceber que a pessoa acredita que o que está fazendo é o melhor para si e para o outro. Agora, não se iluda na qualificação desta atitude, acreditando que a atitude é sempre na direção do “bem” (entendendo que o certo e o errado, o bem e o mal, são questões de perspectiva). É possível encontrar pessoas que têm atitudes que não estão de acordo com aquilo que você espera – e nesse caso, é mais difícil uma modificação. 

Todos nós temos atitudes? 

Quando compreendemos que o comportamento é uma ação resultante da influência do contexto e que a atitude é fruto de uma intenção consciente, fica evidente que todos nós temos comportamentos, pois é uma ação automatizada no nosso cérebro – essa de agir de acordo com o que o ambiente social, relacional, físico e psicológico está influenciando. No entanto, a atitude é uma ação que demanda muito mais esforço e energia dos indivíduos, uma vez que depende de um acionamento de uma parte do nosso cérebro que não é automatizada, precisa ser intencionalmente ativada por meio de um processo de reflexão, de pensar, de sentir para que a ação seja considerada uma atitude.

Então, podemos nos comportar na maior parte do tempo e termos atitudes relacionadas a alguns temas que nos são de maior conhecimento, que são mais sensíveis a cada um de nós. E algumas atitudes podem ir aos poucos se transformando em comportamentos, à medida em que dentro de determinado contexto, a maior parte das pessoas começa a agir de acordo com a influência de alguém que teve atitude em relação a algum tema. 

Por exemplo: depois que o novo líder de área chegou e contou sobre a importância de realizar uma boa análise de riscos, explicou detalhadamente este conceito e fez vários exercícios de análise de riscos com seu grupo ao longo dos meses, o padrão comportamental desse grupo em relação à análises de riscos mudou para melhor. 

Atitude e a liderança

Ao aprender – ou esclarecer –  o conceito de atitude, eu suponho que você tenha associado esta conduta como àquela esperada de uma pessoa que assume uma posição de liderança. É muito frequente que os líderes sejam escolhidos justamente ao observar que determinada pessoa “se destaca” dos demais na sua forma de pensar, sentir e agir em relação a algum tema. Portanto, a atitude é uma forma de agir que todo líder precisa demonstrar.

E quanto mais atitude um líder tem, mais ele é capaz de influenciar o seu time na direção em que deseja, pois tem consistência de argumentação e atua de acordo com aquilo que sente e acredita.

Encerrando

A busca por melhores condutas relacionadas à saúde e segurança das pessoas, passa por um exercício de levá-las a pensar, a sentir e depois agir na direção da prevenção e do cuidado. Por isso é cada vez mais urgente a necessidade de aprimorar nossa forma de gerar aprendizagens dentro dos contextos de trabalho, fomentando cada vez mais atitudes em prol da vida. 

Isso faz sentido para você?