Desde quando estudava Psicologia na faculdade e descobri a minha identificação com o campo de atuação organizacional e do trabalho, o tema de liderança me interessa e, ainda hoje, segue como fonte de questionamento e aprendizado.
Em uma das especializações que realizei, pesquisei mais a fundo as características de bons líderes. Desde então, há quase 20 anos atrás, tenho acompanhado o quanto as teorias e abordagens sobre liderança vem agregando papéis, responsabilidades e competências requeridas das pessoas que ocupam essas posições nas empresas.
Ao longo da minha experiência profissional trabalhando próxima de pessoas que ocupam posições de liderança em diferentes níveis hierárquicos, fui desenvolvendo um sentimento profundo de empatia e compaixão por estas pessoas. Isso porque noto que existe uma lista infindável de expectativas sobre o papel que eles desempenham e a cada dia aparece uma nova lista de competências necessárias. Mas existe pouco movimento na busca de oferecer ajuda e de construir soluções para apoiar esta liderança a entregar o que é esperado.
Ser líder é dar conta de tudo?
Com a redução de custos que as empresas vêm passando nos últimos anos, muitos serviços que antes eram prestados por áreas de apoio hoje recaem sobre os ombros daqueles que estão mais diretamente ligados à operação. Áreas como RH, financeiro, jurídico, suprimentos, qualidade, logística, meio ambiente, saúde e segurança têm uma lista de responsabilidades do que se espera que o líder faça efetivamente para cuidar desses aspectos na operação.
Observando bem de pertinho o dia a dia dessas pessoas, a gente pode encontrar profissionais que são especialistas em “apagar incêndios” atuando na demanda que estiver mais urgente. E como estamos cansados de saber, os líderes de linha de frente normalmente são operadores de bom nível técnico que são convidados a assumir papel de liderança, com algum treinamento teórico que nem sempre os ajuda a cumprir essa grande lista de responsabilidades e expectativas.
As pessoas que ocupam posições de média liderança vivem na pele uma sensação de serem colchões de amortecimento entre a pressão vinda de níveis superiores de liderança e àquela advinda dos líderes de linha de frente e da própria operação. Médios líderes também assumem responsabilidades para atender requisitos de quase todas as áreas da empresa e acabam por assumir determinadas funções operacionais para ajudar a diminuir os “incêndios” do dia a dia.
E mais: as pessoas que ocupam posições altas de liderança nas empresas recebem uma cobrança forte por resultados que são analisados pelos acionistas por meio de indicadores e números que nem sempre são acompanhados das informações de contexto da organização. Altos líderes sofrem por estarem conectados com uma ideia sobre liderança e por ocuparem uma posição alta, precisam estar cientes de tudo, oferecer todas as diretrizes, saber as respostas e ter sempre uma boa fala em todas as situações. Como um ser intocável, quase um semideus. E, com isso, vivem de forma solitária e por vezes isolada com suas responsabilidades.
O fato de assumir uma posição de liderança cria um grande paradoxo profissional. Por um lado existe uma série de expectativas que se criam sobre esse novo líder do dia para a noite e, por outro lado, existe uma pessoa novata no papel de líder que se sente na responsabilidade de atender a todas as expectativas depositadas. Ao mesmo tempo, essa pessoa não se sente preparada para entregar o que é esperado e tampouco pode expressar isso dentro do seu contexto de trabalho.
Quem cuida também precisa ser cuidado.
Independentemente da posição hierárquica, esses cargos são ocupados por pessoas. E a minha empatia e compaixão reside nisso: em termos um olhar mais cuidadoso com todas as pessoas que ocupam os cargos de liderança. Talvez um ótimo exercício de empatia seja começar a abordar os líderes oferecendo ajuda, com uma postura curiosa em saber como é possível apoiá-lo no seu dia a dia e na realização de suas tarefas.
Como podemos tornar as coisas mais leves e exequíveis? Ao humanizarmos o nosso olhar sobre as posições de liderança, talvez possamos parar de aumentar a lista de responsabilidades, de expectativas ou de competências dos líderes e começar a fazer propostas de ações colaborativas de como podemos otimizar os processos para eles. Existem inúmeras ferramentas modernas que podem apoiar a criação de soluções em grupos multidisciplinares, que atendem a diferentes demandas e perspectivas organizacionais e que podem ponderar o que é possível para um ser humano realmente realizar no seu cotidiano.
Não posso deixar de mencionar que algumas das abordagens mais modernas sobre liderança, começam a observar virtudes importantes no exercício deste papel como a compaixão, a coragem e o afeto. Visões como estas vão além das listas de competências e responsabilidades, o que para mim é um alívio, pois demonstra que é possível observar a pessoa por detrás do cargo que se ocupa.
Aproximar-se dos líderes, compreender a sua realidade de trabalho em profundidade, dar escuta para as suas dificuldades, construir propostas e soluções que consideram suas demandas e necessidades reais parece ser um caminho mais humano para apoiarmos as pessoas que ocupam essas posições. Que tal se a gente puder cuidar melhor da relação que estabelecemos com essas pessoas que ocupam posição de liderança nas nossas empresas?
Por meio da Mentoria Tulipa, a Unika Psicologia está disponível para apoiar os líderes de qualquer nível, escutando-os e considerando suas necessidades específicas para tratar questões que envolvem fatores humanos em saúde e segurança do trabalho. Você pode obter mais informações aqui ou enviando uma mensagem.