Neste 7 de setembro, dia da proclamação da independência, não somente o Brasil, (que completa 198 anos de caminhada solo) mas o mundo está precisando dar um novo grito: o de Interdependência ou morte!
Ao vivenciar uma pandemia, somos convocados a flexibilizar nosso pensamento e sentimento para mudar de uma perspectiva micro cêntrica para observar os fenômenos numa dimensão macro. Aquilo que (até o momento acredita-se) teve início numa comunidade específica – China – rapidamente tomou proporções mundiais, por conta da globalização. Trouxe à tona entraves e barreiras que antes corroíam o funcionamento interno dos países de forma latente, agora como uma crise global de larga escala: sanitária, econômica, política, ambiental e climática. Com destaque para a extensão das desigualdades sociais.
Temos nas mãos, de maneira individual, o desafio e a responsabilidade de perceber e compreender de maneira mais profunda esta interconectividade entre todos nós e nossa com o nosso ambiente, com o planeta. Tudo está conectado. Aquilo que eu faço ou deixo de fazer no meu dia a dia impacta de formas impensáveis o mundo. Chamo isso de desafio, pois vivemos em uma sociedade marcada pelo ego e pelos interesses individuais. O “eu”, “meu” e o “teu” tem um apelo cultural muito forte para cada um de nós e acabamos nos acostumando a conviver com esta noção de que “da minha vida cuido eu”. Sempre julgamos como invasivo, intrometido aqueles que demonstram algum interesse de cuidado na nossa direção, sob a justificativa de que somos adultos e sabemos o que estamos fazendo.
Essa pandemia deixou evidente o fato de que cuidar de si mesmo é também cuidar do outro. O fato de alguém se recusar a usar uma máscara em lugares públicos, por exemplo, pode colocar em risco não só a vida deste indivíduo como a de todos que estiverem no mesmo ambiente. Isso não é diferente quando estamos no contexto da segurança do trabalho, quando um operador que está auxiliando um soldador a realizar uma solda, não utiliza os mesmos EPI´s que o soldador. Ambos estão colocando a si próprios, aos colegas e o ambiente de trabalho em risco. Estes são exemplos cotidianos de um microcosmo, mas que podem ser estendidos em impacto e dimensão para tomadores de decisão em nível macro como diretores de empresas, governantes, líderes mundiais. Isso significa que cada um de nós dentro do nosso contexto podemos fazer muito pelo outro, pelo país, pelo planeta, quando escolhemos conscientemente tomar ações que levam em consideração interesses coletivos ganha-ganha e não só os interesses individuais. Para isso é fundamental ter abertura de pensamento e empatia com outros seres humanos para sairmos de uma análise e atuação do ego para o ecossistema.
O valor da vida, por mais incrível que possa parecer, tem sido reconhecido recentemente. Vida em seu sentido mais amplo, dos seres humanos, dos animais, da natureza como um todo. E só estamos reconhecendo este valor, porque estamos vivendo as consequências da falta de cuidado com ela. A falta de cuidado sanitário leva ao aparecimento de doenças, a falta de cuidado com as pessoas leva à desigualdade social e crise econômica, a falta de cuidado com o meio ambiente leva à uma crise climática. E o cuidado com a vida, que começa com gestos simples dentro da casa de cada família – com a dedicação de uma mãe e de um pai em torno da criação dos filhos, da manutenção do asseio e higiene do ambiente familiar, do cuidado com o jardim, da relação de ajuda entre os vizinhos, da contribuição que oferecem para a comunidade, bairro que vivem – começa a ter um tímido valor depois de experimentarmos a quarentena, que nos coloca frente a frente com a necessidade de tomarmos a responsabilidade por estes cuidados cotidianos, que por vezes delegamos a outras pessoas.
Minha provocação neste dia, é para que possamos refletir sobre essa noção de interdependência, trazendo a valorização da vida como pilar central das nossas ações em todos os contextos e que o paradigma do cuidado possa permear de maneira efetiva nossa estrutura sócio cognitiva. Sonho que a partir da conscientização de cada pessoa, possamos cocriar um mundo que tenha uma nova forma de agir social, ecológica e economicamente. Vamos sonhar juntos? Porque sonho que se sonha só, é só um sonho.