Hora de contextualizar.
Há algum tempo estudamos as diferenças entre o processo de aprendizagem de adultos e crianças. Em termos metodológicos, as crianças vêm se aproximando em função da evolução infantil e do contexto educacional que tem se aprimorado.
O fato é que o processo de aprendizagem de adultos recebeu muita atenção e dedicação de especialistas nos últimos tempos. E hoje, pra além da conhecida andragogia – que propõem abordagem, métodos e técnicas apropriados ao aprendizado de adultos – há a heutagogia. Ela é um processo autônomo e autodirigido de aprendizagem, em que a pessoa é capaz de identificar suas necessidades e criar um esquema que possibilite esta jornada.
Heutatogia: e agora?
Nem todas as pessoas estão preparadas para vivenciar o processo de heutagogia, considerando que há ainda um percurso a ser percorrido para que esta autonomia aconteça da forma esperada. Em especial, quando falamos de processos de aprendizagem que acontecem dentro de contextos organizacionais, em que a maior parte do público que é submetido a ações educativas são adultos de escolaridade média e que tiveram poucas possibilidades de desenvolvimento dessa autonomia.
Nesse sentido, o papel de quem está à frente da aprendizagem deste público adulto, que precisa aprender novos repertórios de saberes e comportamentos dentro das organizações de trabalho, torna-se extremamente importante. E ainda nos dias de hoje, encontramos as pessoas que cumprem o papel de serem educadores, como meros transmissores de conhecimentos – seguindo modelos escolares, professorais, antigos e que fatalmente não são eficientes para pessoas adultas. Para contribuir com a eficiência do aprendizado das pessoas adultas, é essencial que as pessoas que realizam esse papel, desenvolvam algumas competências que permitam que sejam verdadeiros facilitadores de aprendizagem.
O que é ser um facilitador de aprendizagem?
Vamos contar aos nossos descendentes que, no passado, aprendemos as coisas na escola e no trabalho em um modelo em que só o professor falava e cerca de 30/40 pessoas ficavam ouvindo passivamente, copiando registros do quadro e memorizando teorias. O modelo “professoral” de transmissão de conhecimento há muito não funciona. Para substituir esse modelo, muito mais alinhado com práticas da andragogia e até mesmo em estímulo a heutagogia, os facilitadores de aprendizagem têm a função de extrair o conhecimento do coletivo para o coletivo, respeitando e estimulando o processo de aprendizagem, que é único para cada pessoa. Substituindo a transmissão de conhecimento pela criação de um espaço de construção colaborativa, em que os indivíduos se sentem ativos e responsáveis dentro do processo.
O facilitador de aprendizagem, portanto, precisa ser alguém que consegue realizar uma curadoria de todo conhecimento e conteúdo disponível hoje, e que organize o contexto de aprendizagem para que as pessoas sejam capazes de vivenciar experiências, buscar respostas e soluções que as ajude a construir conhecimentos coletivamente ou individualmente. Para isso, é fundamental que o facilitador desenvolva capacidade de lidar com as três dimensões da aprendizagem:
Para que o facilitador possa alcançar os objetivos de aprendizagem com determinado público, é essencial que planeje com cuidado e antecedência quais serão os conteúdos trabalhados e de que forma eles podem ser abordados para que gerem engajamento e interesse do seu público. E, para isso, uma das habilidades essenciais que o facilitador precisa desenvolver, é a de colocar o aprendiz no centro do processo. Ou seja: os conteúdos e a abordagem precisam ser planejados levando em consideração a perspectiva e as necessidades do aprendiz. Diferente do que se praticava anteriormente, que considerava somente aquilo que o próprio instrutor conhecia sobre o assunto e tinha vontade e disposição para compartilhar. Quem é o meu público? O que este público já conhece sobre o assunto que será trabalhado? O que eles precisam aprender sobre este tema? Estas são algumas perguntas essenciais para que o facilitador realmente esteja atuando de forma efetiva.
Inegavelmente, o que diferencia um facilitador de aprendizagem de um professor ou instrutor tradicional, é a sua habilidade de propor metodologias ativas, estruturas e atividades que colocam o aprendiz como protagonista na construção do conhecimento e de repertórios de comportamentos novos. Experimentar formatos diferentes e ter horas de experiência prática de facilitação dessas metodologias é um grande diferencial de um facilitador experiente.
Criar um ambiente confiável, psicologicamente seguro e empático é um dos maiores diferenciais do papel do facilitador. Quando imaginamos uma transição do modelo tradicional de ensino e aprendizagem para um modelo de facilitação de aprendizagem, é natural que precise existir um estímulo maior para que as pessoas se sintam seguras em sair de uma postura passiva, para uma postura mais ativa e participativa, que é o esperado no contexto de aprendizagem da facilitação. Para isso, o facilitador precisa compreender estes momentos de transição, e ir estimulando aos poucos a exposição e participação das pessoas, ao mesmo tempo em que cuida, para que esse contexto seja construtivo e favorável ao grupo. O estímulo de competências como cooperação, criatividade, empatia, inteligência emocional, visão sistêmica, são essenciais para que o facilitador de aprendizagem obtenha bons resultados. No futuro, são as competências socioemocionais que irão nos diferenciar das máquinas e dos algoritmos e que irão nos preparar para vivenciar ambientes cada vez mais colaborativos.
Por onde posso começar?
Como você pode observar ao longo do texto, o caminho da aprendizagem do futuro reside na capacidade humana de aprimorar competências que facilitam a nossa convivência, troca e construção colaborativa no mundo. É isso o que irá nos diferenciar das tecnologias que chegam.
Portanto, o começo do caminho para quem deseja ser um ótimo facilitador de aprendizagem é realmente começar a desenvolver em si mesmo essas habilidades esperadas e se experimentar cada vez mais neste papel. Praticar a curadoria de conteúdo colocando o aprendiz no centro, estudando e aprendendo diferentes metodologias ativas que possam apoiar a construção de soluções e conhecimentos e cuidando das habilidades socioemocionais em si mesmo e nos seus aprendizes.
Na ORVALHO, a jornada dos diálogos de segurança da Unika, nós abordamos estes aspectos e apresentamos uma série de modernas técnicas que podem ser aplicadas durante um DDS com duração de no máximo 15 minutos. Este também pode ser um excelente início do treino do papel de facilitador.
Fonte: https://blog.electi.com.br/o-facilitador-de-aprendizagem/