Recebi esta pergunta recentemente e ela me fez pensar no que estava por trás dela.
Investiguei com quem perguntou e descobri que a dúvida era: as pessoas agem de forma segura porque elas querem ou porque elas precisam cumprir regras dentro das empresas?
Agradeci a dúvida e por ter oportunidade de responder.
As duas possibilidades existem. Pessoas agem porque querem e pessoas agem porque cumprem regras. Tecnicamente pode-se dizer que são condutas diferentes, uma mais ligada ao conceito de atitude e outra mais ligada ao conceito de comportamento ou ainda, ao ato. Explico:
Ato é uma parte visível do comportamento.
Comportamento é a compreensão do que motiva a pessoa a para realizar este ato.
E atitude diz respeito a uma tendência em realizar determinados comportamentos.
Sim os conceitos são intrincados e por isso mesmo, podem ser confundidos com facilidade na vida real. Esta é só uma separação para fins didáticos. Observe um exemplo prático: eu encontro uma pessoa que não está utilizando a máscara facial (hoje obrigatória por conta do Covid-19) dentro da empresa.
Aqui existem alguns caminhos possíveis:
1) Ignorar o que vi; [não intervenho sobre nada]
2) Abordar a pessoa educadamente e pedir para ela colocar sua máscara; [intervenção sobre o ato];
3) Abordar a pessoa e perguntar o que ela acredita que pode acontecer com ela ou com outras pessoas quando ela não usa máscara? E perguntar o que leva ela a agir dessa forma? [intervenção sobre o comportamento]; e a partir da escuta ativa das respostas dela construir juntos uma possibilidade de agir de forma mais segura.
Pode ser que a pessoa coloque a máscara porque você foi educada com ela e enquanto você estiver por perto ela utilizará. Esse é o efeito de uma intervenção sobre o ato. Já quando a pessoa muda o seu comportamento (neste exemplo utilizando a máscara facial) para uma forma mais segura, independente da sua presença ou de outras formas de fiscalização, é provável que a sua intervenção tenha sido eficaz em identificar e tratar as causas desse comportamento. E quando a pessoa repete este novo comportamento de forma consciente, isso vira uma tendência na sua conduta, ao que chamamos de atitude.
Uma outra maneira de explicar atitude é: quando constantemente o pensar, o sentir e o agir estão alinhados. Ou seja, eu não estou agindo de modo automatizado ou copiando o que o outro faz, tampouco estou sendo influenciado pelo ambiente ou fiscalização. Eu estou refletindo e sentindo os impactos da minha atuação.
E o comportamento seguro, existe afinal? Sim, ele existe de forma consistente quando a pessoa é capaz de perceber os riscos à sua volta e controlar de forma imediata protegendo a si mesmo e aos outros. O comportamento seguro, se compreendido de maneira mais aprofundada, apresenta os componentes que foram descritos no conceito de ‘atitude’. Pois ele prevê que a pessoa pense a respeito do seu contexto para poder identificar os riscos, sinta como isso pode afetar a si e aos outros e atue para realizar os controles necessários. Mas ele vai se tornar uma ‘atitude’ à medida que a pessoa o faz de maneira frequente e isso gera uma tendência de atuação.
Por outro lado, existem muitos ‘falsos comportamentos seguros’ – que ocorrem quando a pessoa atua de forma segura (por exemplo usa um EPI) porque é regra da empresa, porque os colegas fazem assim, porque o técnico de segurança pediu etc. Não há um processo de reflexão envolvido e algumas vezes a pessoa nem vê sentido em adotar determinado cuidado. É uma ação automatizada de imitação de comportamentos presentes no ambiente para sentir-se confortável.
Pode existir, portanto, comportamento seguro por via da consciência ou por via da obediência. Ambos aparentemente podem ser iguais, no entanto existem fatores do ambiente, psicológicos e sociais diferentes que podem estar o influenciando. E a maior diferença entre eles é que o primeiro é sustentável e pode vir a ser uma atitude autônoma no futuro. Enquanto o segundo é sustentado por força da lei, da vigilância e da punição.
Na implantação de determinadas ações a obediência pode ser uma estratégia no sentido de auxiliar na repetição de alguns comportamentos, mas a médio e longo prazo, só o caminho da consciência, por via da aprendizagem e clareza das razões para se atuar de determinada maneira pode gerar atitudes autônomas e seguras.
Trilhar este caminho até construir atitudes seguras é uma jornada, que não se dá por força ou controle das pessoas, mas pela capacidade de escutá-las em suas perspectivas e necessidades, em ajudá-las a ampliar suas reflexões, conceitos, visões e a partir disso, acompanhar a escolha delas em agir de forma mais consciente e segura.