Dia Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho

Neste dia 27/07 refletimos sobre a prevenção de acidentes no trabalho e eu quero fazer um convite para pensarmos sobre a importância do trabalho de um profissional que normalmente encontra na segurança do trabalho um propósito para sua vida: os técnicos e engenheiros de segurança.

Recentemente entrevistei alguns desses profissionais com o objetivo de compreender melhor a sua realidade de trabalho, pois estava buscando algumas respostas para construir soluções de aprendizagens para este público. Apesar de trabalhar há 17 anos auxiliando profissionais desta área a ter um olhar mais apurado para aspectos humanos, eu percebi que talvez eu mesma não tinha enxergado alguns aspectos do trabalho deles, que me ajudaram a ser mais empática.

Vou falar sobre quatro pontos que chamaram minha atenção:

1) O primeiro deles diz respeito a principal motivação – de engenheiros e técnicos de segurança – para trabalhar nesta área, que é a realização que sentem quando percebem que estão contribuindo para que as pessoas tenham mais consciência sobre segurança e melhores condições para trabalhar. Apesar da segurança ser uma área técnica, muito ligada a conceitos cartesianos, os profissionais que nela atuam demonstram ter uma inclinação e perfil para trabalhar com as pessoas, com aspectos humanos no trabalho.

2) O segundo ponto, diz respeito ao principal medo que estes profissionais têm ao exercer sua atividade profissional. Eu confesso que esperava receber como resposta de 100% deles que o principal medo seria o de ter uma fatalidade na empresa. Esta resposta também apareceu, mas fui surpreendida por 2 outras respostas mais frequentes: os profissionais têm medo de não receber apoio da alta liderança em uma tomada de decisão e também de não ter tempo para analisar em profundidade todos os elementos importantes para solucionar um problema, tomar uma decisão.

3) O terceiro aspecto fala do baixo investimento em qualificação do profissional da área de segurança do trabalho no que se refere a competências comportamentais. É comum que estes profissionais vão em busca da competência técnica, como atualizações de legislação e normas. E é também o foco de capacitações ofertadas pelas empresas, até mesmo por força de lei. Um técnico de segurança que deseja progredir na carreira, com raras exceções, precisa fazer uma faculdade de engenharia e depois uma especialização em segurança do trabalho, para tentar alcançar um cargo de engenheiro de segurança ou de liderança. Existe uma lacuna enorme (de tempo e aprendizado) de formação entre o técnico e o engenheiro de segurança. Este fato, por vezes, pode desestimular a busca por desenvolvimento em especial dos técnicos de segurança. E aqui uma provocação para as empresas que não possuem plano de carreira e aprendizagem para estes profissionais, para poder estimular o crescimento e desenvolvimento destes que são estratégicos para empresas para fomentar consciência e tomada de decisão segura no campo operacional. E além da provocação às empresas, uma provocação aos próprios profissionais técnicos de segurança para se capacitar e evoluir neste campo de aspectos humanos, buscando se diferenciar e estar habilitado para muitas oportunidades que o mercado oferece nesta área.

É importante destacar, que apesar de uma lacuna na formação e capacitação, do ponto de vista de percepção sobre a realidade de trabalho, – nas entrevistas e enquete realizada pela Unika – não houve diferenças significativas entre a visão desses profissionais sobre as dores e ganhos presentes nas suas realidades de trabalho.

4) Por último, quando perguntados sobre o que consideram um trabalho bem sucedido em segurança do trabalho, grande parte deu respostas bem previsíveis como: quando percebo mudança de comportamento em área e também na atuação dos líderes. Mas a respostas de duas pessoas que estavam falando sobre o mesmo tema, me chamaram atenção e fizeram refletir. Elas disseram que um trabalho bem sucedido em segurança do trabalho não existe. Eu parei um minuto, refleti e perguntei por que não existe? E elas argumentaram dizendo que um excelente trabalho em segurança é aquele que não tem um ponto final, é quando todos compreendem que é um trabalho contínuo, realizado com a frequência necessária para estimular avanços e ampliação no entendimento do que significa fazer segurança no trabalho.

Quis compartilhar estas percepções porque considero que seja útil e legítimo dar visibilidade a estes profissionais, que só conseguem alcançar resultados na sua área fazendo alianças relacionais com líderes e com a operação. Eles são um elo muito importante que nutre de informação, consciência e autonomia as pessoas que estão com a mão na massa e as pessoas que tomam decisão na organização. Precisam receber um olhar cuidadoso para que estejam capacitados para transitar e atuar em parceria com estes dois públicos. Além de receber o reconhecimento de suas práticas para fortalecer e estimular sua evolução.

Como psicóloga que se dedica a esse campo de atuação da segurança, me identifico com muitas das falas desses colegas de propósito e me uno a eles na busca contínua em promover ambientes mais seguros e saudáveis, que prezem pelo cuidado com a vida em seu sentido mais amplo, muito além da prevenção dos acidentes.