Construindo hábitos da mente

Um novo caminho para o trabalho. Beber um copo de água logo depois de acordar. Incorporar exercícios físicos no dia a dia. Essas são atitudes consideradas positivas e que, de acordo com especialistas, podem demorar em torno de 21 dias para se transformarem em hábitos quando feitas de forma repetitiva.

Mas e quando falamos sobre criar hábitos a partir de atitudes mentais, que só dependem exclusivamente do nosso esforço e desempenho intelectual? Bena Kallick e Arthur Costa, fundadores do Instituto Habits of Mind, acreditam que existe uma forma de organizar os pensamentos com o objetivo de criar novas perspectivas para os problemas mais complexos.

Após um profundo estudo a respeito do comportamento humano, os dois pesquisadores formataram a lista dos 16 Hábitos da Mente. Um conceito que bate de frente com a linha de pensamento dicotômica que nos faz acreditar que, para cada problema, existem apenas duas alternativas de escolha, um certo e um errado, um “sim” e um “não”. Quando se incorporam novos hábitos mentais, aprendemos que nossos problemas podem ser resolvidos a partir de várias perspectivas.

Pense em um dilema que você está vivenciando agora. Por que buscar uma solução no presente, se você também pode ampliar sua análise buscando respostas no passado ou no futuro? Por que se apegar apenas à solução visual, quando você pode buscar um resultado diferente a partir de uma análise olfativa, auditiva, amplamente sensorial?

Vamos conhecer os 16 hábitos que podem ajudar em confrontos nos quais não existem soluções óbvias, mas sim, um leque de possibilidades que convidam para resolver problemas de forma menos condicionada e mais inteligentemente flexível.

1. Persistir

É sobre analisar um problema, desenvolver um sistema de ação, criar uma estratégia e ir até o final.

2. Gerenciar impulsividade

Em Emotional Intelligence (1995), Daniel Goleman chama esse hábito de “negar um impulso a serviço de um objetivo”. É quando se evitam julgamentos de valores imediatistas, avaliando as direções antes de agir.

3. Escutar com compreensão e empatia

É frequente dizer que estamos ouvindo, quando na verdade estamos ensaiando nas nossas cabeças o que vamos dizer na sequência. O movimento contrário disso é ter uma audição produtiva: a arte de desenvolver um silêncio profundo, que retarda a audição e permite entender o significado real do que o outro está dizendo.

4. Buscar a precisão

Quando valorizamos a precisão, entendemos que algumas decisões podem levar tempo. Isso porque estamos revendo os valores pelos quais somos regidos – algo que demanda tempo de compreensão e autoconhecimento – para que o resultado final esteja conectado com nossa essência.

5. Questionar e levantar problemas

Einstein já disse: saber formular um problema pode ser ainda mais importante do que encontrar sua solução. Solucionadores efetivos estão sempre em busca de boas perguntas que preenchem lacunas entre o que sabem, o que não sabem e o que ainda não faziam ideia que não sabiam.

6. Aplicar conhecimentos prévios para novas situações

Mais do que se apegar a lembranças para solucionar problemas, esse hábito convida a abstrair sentido de uma experiência já vivida, concluindo algo no passado e aplicando a uma situação nova.

7. Pensar e comunicar-se com clareza

A linguagem e o pensamento estão conectados e são inseparáveis. Falar bem é consequência de um pensar organizado, sem generalizações e distorções.

8. Reunir dados por meio dos 5 sentidos

É preciso manter em mente que toda informação não precisa ser recebida da mesma forma pelo cérebro. Sempre existe a possibilidade de enxergar um dado específico do ponto de vista variado dos 5 sentidos. Isso aumenta a absorção da informação e, consequentemente, a quantidade de soluções.

9. Criar, imaginar, inovar

Se manter aberto para a imaginação é saber aceitar críticas, questionar o status quo e se esforçar constantemente para alcançar o equilíbrio entre técnica e originalidade.

10. Responder com curiosidade e fascinação

Além de falar “eu posso”, é preciso aprender a dizer “eu aprecio”. Com esse hábito, entendemos a oportunidade que existe em cada problema, já que é só mais uma chance de aprender mais sobre o mundo e sobre você mesmo.

11. Assumir riscos responsáveis

É sobre entender que a confusão, a incerteza e os altos riscos do fracasso podem fazer parte do processo, sem perder de vista os aprendizados anteriores e o cenário completo do problema.

12. Encontrar o humor

Além de liberar endorfina e aumentar o nível de oxigênio do sangue, o riso libera a criatividade e a produção de pensamentos originais, interessantes e livres de preconceitos a respeito de si mesmo e dos outros.

13. Pensar em equipe

Pensar inteligentemente também é compartilhar o pensamento. O problema complexo não precisa ser resolvido sozinho, mas sim, pode estabelecer trocas que permitem visões ampliadas.

14. Permanecer aberto ao aprendizado contínuo

Por que entender um problema como negativo quando ele pode ser fonte de um aprendizado contínuo, que se nutre pela curiosidade de se autoconhecer e pela possibilidade de entender cada vez mais como resolver novas tensões, novos conflitos, novos questionamentos internos?

Antes de concluir, destaco dois hábitos que me encantam. E encantam porque são atitudes mentais que fazem toda a diferença no dia a dia da Segurança do Trabalho.

15. Pensar com flexibilidade

É a leveza de poder mudar de ideia. É abordar o problema por um novo ângulo. É entender que um ponto de vista alternativo pode ser sim fonte de informação relevante. No nosso dia a dia, incorporar pensamento flexível na Segurança do Trabalho é aceitar que até mesmo os procedimentos mais rígidos e bem definidos podem estar em constante mudança.

16. Pensar sobre o próprio pensamento

Quando trabalhamos com Segurança do Trabalho, é comum encontrarmos soluções para situações realmente difíceis. É ainda mais comum não conseguirmos entender como chegamos nessas soluções. Esse cenário é fruto de um dia a dia no automático, onde precisamos entregar resultados de forma rápida, intensa e robótica. Porém, é sempre preciso lembrar que a rota é tão importante quanto o resultado.

Quando elaboramos a metacognição e, de acordo com Platão, “deixamos nossa alma falar com ela mesma”, entendemos o caminho percorrido e conseguimos agir mais inteligentemente nos próximos desafios.

Estamos só no começo de um longo aprendizado a respeito da nossa mente. Que tal inserir aos poucos esses hábitos mentais positivos na sua vida?