Compaixão, coragem e carinho: as virtudes do cuidado ativo

A prática do cuidado ativo tão difundida nos ambientes de trabalho como ações realizadas para cuidar de si, cuidar do outro e permitir-se ser cuidado, ainda é um grande desafio para a maior parte das pessoas e das organizações. 

Nos últimos anos, especialmente após o período mais crítico da pandemia, temos visto o tema “cuidado” mais presente em nossa vida cotidiana e, por consequência, nos ambientes de trabalho. Diferentes de outros momentos, o tema ganhou espaço e visibilidade. Mas, na prática, ainda temos dificuldades para exercer este tão falado cuidado ativo.

Em busca de compreender melhor e poder contribuir para que mais pessoas possam exercer o cuidado ativo, encontrei algumas dicas valiosas referenciadas pelo próprio Geller, criador do termo “cuidado ativo” em 1990. 

Para contextualizar, é importante dizer que o cuidado ativo pode ser exercido apreciando as boas práticas que as pessoas estão realizando, o que é inclusive a recomendação do autor: comece realizando considerações positivas sobre o que as pessoas estão fazendo bem. É muito comum associar o cuidado ativo somente com as ações de correção que pretendem proteger alguém de um perigo. Mas ações que também demonstram cuidado podem estar ligadas a demonstrações de que eu estou atento e conectado com a outra pessoa. Alguns exemplos: 

  • Perguntar como foi o exame médico a alguém que está doente/sendo examinado
  • Perguntar se a pessoa tem conseguido descansar
  • Oferecer uma ajuda quando sabe que o outro está muito atarefado
  • Oferecer alimento/bebida quando o outro manifesta que está com estas necessidades
  • Oferecer escuta a alguém que manifesta estar ansioso ou angustiado com algum tema
  • Agir para mobilizar pessoas em torno de alguma causa 

Veja que estes exemplos apresentam verbos de ação, que é o grande intuito da palavra “ativo” depois do cuidado. 

Na concepção de Geller, para que uma pessoa exerça o cuidado ativo, é necessário que apresente 3 atitudes fundamentais:

Compaixão + Coragem + Carinho

O que é compaixão?

A compaixão é uma virtude de alguém que consegue se colocar no lugar do outro, tendo empatia por aquilo que a pessoa está vivendo, sendo situações boas ou não. Existe uma frase muito repetida no senso comum que diz: “Trate as pessoas como gostaria de ser tratado.” E o que Geller sinaliza é que ter compaixão não é tratar o outro como você gostaria de ser tratado, mas sim, tratá-lo como ele gostaria de ser tratado. Isso envolve uma habilidade de escuta empática e uma curiosidade em fazer perguntas para compreender a perspectiva do outro. 

Qual a relação entre compaixão e coragem?

O autor explica que a compaixão é a mola propulsora da coragem. É a partir de um olhar compassivo para o outro que sou encorajado a ir para a ação de cuidado, seja ela um gesto de oferecer um copo de água, uma conversa, um elogio, um espaço de escuta, uma mensagem, um aceno. Por incrível que pareça, precisamos ter coragem até mesmo para reconhecer e valorizar as boas práticas que vemos as pessoas fazerem, porque isso envolve entrar no campo das relações, eu me expor diante do outro e abrir um espaço de relacionamento que nem sempre estamos dispostos a sustentar no nosso dia a dia. Quando se trata de praticar o cuidado do ponto de vista corretivo, isso é ainda mais desafiador. E por isso a terceira atitude é fundamental, o carinho

Por que o carinho é uma atitude fundamental?

Tomar ações para praticar o cuidado ativo, precisa ser um exercício de manifestar carinho pelas pessoas, com toda leveza e suavidade que esta palavra pode oferecer. Mesmo que a nossa ação seja para apreciar o bom trabalho realizado por alguém, precisamos ser leves na abordagem e direcionar carinho na direção desta pessoa – tornando este ato genuíno e não somente cumprindo um protocolo ou recomendação da empresa. E quando se trata de realizar uma ação para correção ou proteção de um perigo, o carinho é ainda mais importante. 

Desde o momento de se aproximar de alguém, a escolha das palavras para abrir um diálogo, a maneira como perguntamos algo, as nossas expressões faciais, o tom da voz, o direcionamento do olhar, o encaminhamento da conversa. Tudo isso pode estar comunicando o “carinho” com que você está cuidando desta pessoa.

Vale lembrar que estas 3 virtudes se aplicam à prática do autocuidado, que é o primeiro passo do cuidado ativo – o cuidar de si. Não podemos oferecer aos outros aquilo que não conseguimos sentir e experimentar em nós mesmos.

Que tal fazer uma auto reflexão sobre como estão estas 3 virtudes (compaixão, coragem e carinho) no seu dia a dia?