Uma das ferramentas mais utilizadas em ambientes de trabalho de risco elevado como maneira de intervir em comportamentos e prevenir incidentes é a OAC – Observação e Abordagem de Comportamentos. Durante as últimas décadas, essa ferramenta ganhou características e abordagens diversas, das mais sofisticadas e complexas até as simplistas e com promessas mágicas, que atraem defensores e detratores desta prática.
Falando da minha experiência de mais de 17 anos de prática dessa ferramenta, o que tenho a dizer é que o método adotado e o cuidado em trabalhar com os 3 canais de mensagem de Cultura (você pode ler mais sobre isso aqui), são chaves importantíssimas para a efetividade de resultados desta ferramenta.
Utilizar um método que aborda conceitos mais aprofundados sobre o que é comportamento e trata o que realmente pode estar ativando determinados comportamentos na sua organização é, sem sombra de dúvidas, um grande diferencial da ferramenta. Muitas organizações consideram que uma metodologia mais robusta – que envolve um investimento de tempo maior na observação e diálogo com as pessoas que realizam as atividades operacionais – é impossível ou desnecessário, e acabam apostando em outras abordagens mais superficiais e que levam em consideração conceitos de senso comum sobre o comportamento. Muitas dessas abordagens consideram que uma observação e abordagem de comportamentos pode ser realizada somente observando uma pessoa trabalhar, muitas vezes sem informá-la de que está sendo observada (pois ainda há quem acredite que as pessoas precisam ser “flagradas”) e realizando um registro em documento oficial sobre o que foi somente “observado”, sem nenhum tipo de conversa com a pessoa em questão. Apesar de ser mais fácil, esse tipo de abordagem da ferramenta não atua sobre o comportamento e tampouco tem qualquer efetividade preventiva.
É essencial que sua ferramenta tenha um desenho inteligente de metodologia e sistema de gestão, que efetivamente ensine os seus líderes a observar e conversar com as pessoas sobre seus comportamentos. E que isso seja realizado da forma mais respeitosa, transparente e despertando a confiança de ambos os lados, para que realmente tenha algum efeito sobre o comportamento das pessoas e consequentemente sobre a cultura de segurança da empresa.
Para que a ferramenta OAC ganhe a potência e efetividade que ela pode alcançar, é fundamental cuidar dos 3 canais de mensagem que são importantes para estimular que essa ferramenta vire um traço de cultura organizacional. Os 3 canais são: comportamento, símbolo e sistema.
Do ponto de vista de comportamento, o cuidado e assertividade na escolha da metodologia e capacitação de todos os envolvidos é o ponto crucial. Já para símbolos, campanhas que reforcem o propósito maior da ferramenta, que é justamente o cuidado com a vida em todas as suas formas, bem como, convidem à participação e ao envolvimento de todos os atores envolvidos nesta prática, são caminhos essenciais para criar rituais e símbolos que fortaleçam a ferramenta. E por fim, o sistema de gestão, a forma como serão realizados os registros, estabelecidas as metas e os indicadores da ferramenta, assim como a maneira como serão acompanhados e retroalimentarão toda a prática da organização, formará o terceiro pilar desse tripé fundamental para completar os canais de mensagem efetivos para uma ótima implantação da ferramenta.
Quando bem aplicada, seguindo várias dessas dicas abordadas ao longo deste artigo, a ferramenta OAC é uma potente aliada da evolução da cultura de segurança da organização. E apesar de ser uma prática relativamente antiga, ela se alinha com abordagens modernas que enfatizam a importância de observar e analisar aquilo que está funcionando bem nas rotinas de trabalho, de reconhecer e reforçar as práticas seguras, de entender que o erro é natural e que precisamos estar sempre numa espiral ascendente de aprendizagem dentro das temáticas de segurança do trabalho. Sem falar que as mais modernas abordagens de segurança reforçam o fato de que o comportamento é fruto do contexto ambiental, e não de escolhas pessoais, o que já é defendido e explicado pela psicologia há muito tempo.
Este olhar para o positivo e para o que podemos ainda aprender para nos antever à situações de risco, evitando que se materializem, é justamente a proposta dessa ferramenta tão importante e que eu vi trazer muitos resultados ao longo da minha caminhada como psicóloga do trabalho.
Muitos dos conceitos que envolvem o comportamento humano e o comportamento seguro, estão super bem detalhados na SOLO. A jornada de aprendizagem sobre comportamento seguro da Unika Psicologia. Um processo de aprendizagem 100% online e que tem trazido momentos de reflexão e impulso para mudança de paradigmas em diversas organizações que já experimentaram. Você pode saber mais sobre isso aqui.