A Segurança do Trabalho precisa da Psicologia?

Durante muito tempo a grande contribuição que a psicologia trazia para a realidade da segurança do trabalho estava ligada ao processo de recrutamento e seleção, por meio de avaliações específicas de habilidades e capacidades psicológicas, bem como, ao trabalho de acompanhamento e recuperação de pessoas que se acidentavam na organização. 

Aos poucos, esta área tão essencial para o cuidado e preservação da vida nos ambientes de trabalho – que faz parte do SESMT das organizações e já está bastante acostumada a trabalhar de forma multidisciplinar – foi compreendendo que o grande trabalho dos profissionais da área de segurança não se relaciona somente ao cumprimento de leis, criação e controle de documentos e auditorias de campo. 

Recalculando a rota…

Mas então, por onde seguir?

Foi então observado o quanto é necessário apoio para compreender aspectos humanos e atuar sobre eles. Pouco a pouco, os profissionais psicólogos foram convocados a ampliar seus estudos e as suas atuações dentro da área de segurança do trabalho. 

Estudos iniciais da psicologia no Brasil buscavam correlacionar a ocorrência de acidentes com características pessoais dos trabalhadores como: altura, peso, idade e escolaridade. E logo chegou-se à conclusão de que esta relação não é comprovada. 

Olá, behaviorismo.

Com a chegada de novos questionamentos, passaram a ser ampliados os estudos sobre a influência de comportamentos, apoiados pelo behaviorismo. Psicólogo americano Scott Gueller é um dos nomes mais influentes quando se fala de compreender o comportamento humano relacionado à segurança do trabalho, bem como o entendimento sobre os impactos da atuação da liderança sobre os comportamentos e sobre a Cultura de Segurança. 

Thomas Krause estudou a fundo as melhores práticas de liderança para uma excelente atuação e responsabilização sobre aspectos de segurança. 

James Reason, trouxe importantes contribuições para olhar o fator humano presente em todos os contextos e hierarquias da organização e como tudo se relaciona. Foi autor do termo “acidente organizacional” que ampliou o entendimento das empresas sobre responsabilização de acidentes. Reason também desenhou modelos de análise de acidentes que escapavam da culpabilização dos empregados e participou do estudo do Instituto Energy que deu origem ao programa Hearts & Minds, que hoje apoia muitas empresas a compreenderem as características de evolução da Cultura de Segurança nas Organizações. 

Com a palavra: Hollnagel e Dekker.

Uma de suas grandes contribuições foram as perspectivas de Safety I e Safety II. Basicamente, são conceitos que convidam para pensar a segurança muito além do número de acidentes e de erros.

De acordo com Hollnagel, segurança se faz olhando para aquilo que funciona e que dá certo. Ou seja: por que focar nos erros se podemos aprender e nos guiar pelos acertos? 

É quando o ser humano passa a ser entendido como o grande solucionador de problemas e uma fonte de criatividade dentro dos ambientes de trabalho. Isso enfatiza a importância do aprendizado em times e o papel ativo das pessoas para desenvolver autonomia e responsabilidades. 

Já Sidney Dekker criou o conceito de Safety Differently: uma perspectiva ética sobre a responsabilidade dos líderes no cuidado com as pessoas, encorajando-as a utilizarem seu senso crítico e a construírem soluções para as questões de segurança no ambiente de trabalho. 

Que venham novos questionamentos e estudos.

Neste artigo, abordamos somente alguns psicólogos pesquisadores do campo da psicologia da segurança do trabalho. Mas o fato é que existem muitos outros profissionais trabalhando fortemente em novos paradigmas da segurança do trabalho, para seguir contribuindo com os conhecimentos da psicologia nesta área tão importante dentro das organizações.

O nosso parabéns a todos os psicólogos e psicólogas que reinventam perspectivas, todos os dias.