O que é o risco? Como podemos identificá-lo em nosso dia a dia? É possível que pessoas diferentes percebam os riscos da mesma maneira? O que pode influenciar a percepção das pessoas? Estas são algumas das perguntas recorrentes que tangenciam o conceito de percepção de riscos.
Abordar o que é risco de uma maneira simples, cotidiana, que auxilie as pessoas a compreender em quê isso as afeta no mundo real, é o primeiro desafio para poder se chegar a uma noção de percepção de risco. É frequente encontrar os profissionais ensinando as pessoas a preencher documentos (APR, PT, planilhas de avaliação de risco) que envolvem o conceito de risco. No entanto, dificilmente se explica ou tenta-se chegar a um ponto comum a respeito do que está se chamando de risco dentro deste contexto de trabalho.
Convidar as pessoas a pensar a respeito do que pode acontecer com elas ao interagir e manusear determinados recursos – ferramentas, máquinas, equipamentos, produtos, energias – pode ser um bom começo. Incluir as pessoas na reflexão sobre os riscos presentes no seu trabalho, fazendo isso COM as pessoas é o caminho mais acertado para gerar entendimento e apropriação sobre o conceito de risco, tornando possível que as pessoas tenham autonomia de fazer análise dos riscos em qualquer contexto que sejam inseridas.
O fenômeno da percepção humana é complexo e sofre influência de diferentes fatores que estão presentes e atuam o tempo todo. Perceber é uma forma que o cérebro de cada pessoa tem de atribuir um significado a diferentes estímulos que recebe segundo a segundo. Didaticamente é possível separar em 4 os fatores que influenciam a percepção:
1) Cognitivo: diz respeito ao conhecimento necessário para poder interpretar algo. Desde o conhecimento mais básico, como por exemplo a habilidade de leitura e interpretação, até conhecimentos e habilidades mais sofisticadas como saber operar um equipamento.
2) Fisiológico: o corpo precisa estar funcionando bem, com a saúde boa para que seja possível estar com a atenção focada no ambiente externo para perceber adequadamente os estímulos que chegam. Quando há alguma alteração no fisiológico, como sono, fome, dor, doenças – a tendência é que estes aspectos tomem muito da atenção e dificultem uma percepção adequada do que está acontecendo.
3) Psicológico, Emocional: aspectos que envolvem o autoconhecimento, emoções e maturidade individual. Tem a ver com o padrão de funcionamento de cada pessoa e a forma como se relaciona, afeta e é afetado pelos ambientes de convivência.
4) Social, Cultural: dizem respeito aos estímulos que recebe em determinado contexto e que influenciam sua forma de enxergar o mundo e atuar sobre ele. Pode ser um exemplo disso as culturas organizacionais que são responsáveis por guiar e estimular determinados comportamentos.
Os estudos mais atuais sobre percepção de riscos apontam que a dimensão psicológica, emocional exerce uma influência forte na tomada de decisão das pessoas, em especial em contextos sociais que não estão preocupados em entender e acolher estas dimensões como parte do processo de produzir de forma segura e eficiente. Para minimizar os impactos desta dimensão na percepção de riscos, é fundamental criar e nutrir um ambiente de confiança, em que as pessoas (seus sentimentos e necessidades) sintam-se incluídas como parte ativa, pensante e vital de todo processo produtivo.
A percepção é um processo que está intimamente ligado ao fenômeno da atenção. Onde você coloca sua atenção? O que te interessa? É provável que você perceba de maneira mais eficiente e com mais riqueza de detalhes aquilo que é foco do seu interesse, o que chama sua atenção.
Este é um aspecto que merece muito cuidado por parte de todos que trabalham com segurança, pois muitas vezes o tema da segurança é “vendido” como algo completamente desinteressante para a maior parte das pessoas. Algo que é obrigatório, que tem força de lei, que se não fizer pode gerar punições, dentre outros argumentos na mesma linha. O que pode não atrair a atenção das pessoas para o tema.
E na realidade, é do interesse de todos sustentar a vida e a integridade física, para que planos possam se concretizar, para que o futuro seja abundante, para que cada um possa de desenvolver, evoluir e alcançar seus sonhos. Portanto, é fundamental que a abordagem da temática de segurança possa a cada dia mais convidar as pessoas a se envolver com o tema, motivando a querer saber mais, ampliando os horizontes e gerando mais profundidade na abordagem dos assuntos. Uma vez que as pessoas tiverem interesse, isso guiará sua atenção para este fenômeno e consequentemente estará mais propensa a perceber tudo ao seu redor com mais detalhes, favorecendo tomadas de decisão mais seguras.
Abordagem que desperte o interesse, um ambiente de confiança que permita que as pessoas contribuam, se expressem e se sintam parte do processo são chaves importantes para que a percepção de risco possa ser aguçada e de alguma maneira alinhada entre as pessoas que trabalham juntas. Essa dedicação de esforços em fazer segurança com as pessoas é o que pode construir soluções mais eficientes na busca contínua de cuidado com a vida.