Sou uma curiosa e entusiasta dos processos de aprendizagem. Desde a minha formação acadêmica tinha curiosidade sobre áreas inovadoras da psicologia, como a psicologia do consumidor, psicologia do esporte e buscava cursos complementares que pudessem ir além daquilo que estava estudando na universidade. Quando comecei a trabalhar com consultoria, outro universo de conhecimentos e experiências se abriram e foram ampliando meu olhar e consequentemente minha sede de aprender. E até hoje tenho sempre a sensação de que não conheço o suficiente ou o que gostaria. Sabe aquela história: quanto mais eu conheço do universo do saber, maior fica a linha que divide o que eu sei daquilo que eu não sei? Então, assim que me sinto.
E apesar da minha voracidade pelo processo de aprendizado, nos últimos tempos – talvez em função da condição imposta pela pandemia – tenho notado o quanto o processo de aprendizado está ainda mais desafiador, pela volume de informações e inovações disponíveis, pela velocidade com que estamos sendo chamados a aprender e por nos convidar a deixar pra trás rapidamente velhas formas de pensar, de fazer as coisas, de usar as tecnologias, de realizar o trabalho daquele jeitinho que estamos tão confortavelmente habituados. O processo de aprender pode despertar diferentes sentimentos e emoções para as pessoas. Pretendo explorar aqui algo que pude perceber acontecer comigo e que pode ser que aconteça com você também e isso te ajude a refletir, para que possa aprender mais e melhor.
Para quê a gente quer aprender algo? Por que buscamos processos de aprendizado? Respondendo por mim, a minha busca é sempre por evoluir o pensamento, modelo mental e consequentemente o comportamento, a forma de agir no mundo com base em novos conceitos e perspectivas. Isso parece relativamente fácil, mas sabemos que na prática é um processo nem sempre tão rápido ou simples. Porque quando uma aprendizagem verdadeiramente acontece a ponto de alcançar uma evolução no nosso comportamento, na nossa atitude, é porque vivenciamos um processo de mudança. E muitas vezes as mudanças geram resistências, pois nos apegamos, habituamos a maneiras de fazer e agir. Por mais que um aprendizado novo venha melhorar, facilitar, agilizar nossa vida ou trabalho, nós resistimos.
Eu estudo sobre mudanças há algum tempo, dou treinamento sobre isso, mas é outro nível de experiência quando vivemos na pele e estamos conscientes sobre o processo. Tenho me debruçado a aprender sobre como podemos migrar os processos de aprendizagem para ambientes virtuais, sustentando que de fato eles gerem mudanças de comportamento e atitude das pessoas. Para isso, tenho me submetido a diferentes experiências virtuais de aprendizado com metodologias diversas, de forma síncrona e assíncrona, em inúmeras plataformas e aplicativos inovadores que estão disponíveis. Noto em mim, aquela centelha de resistência a cada vez que vou começar uma nova iniciativa virtual: começo a suar frio, taquicardia, parece que há uma trava no peito e uma certa recorrência de pensamentos que ficam passando na cabeça, me desencorajando de experimentar novos formatos, como se eu não fosse capaz ou como se o novo jeito não fosse assim tão melhor ou mais vantajoso do que o jeito que eu já faço, já sei. Atenta a esses movimentos, eu preciso me encher de coragem para superar essas sensações e pensamentos, me expor e experimentar um novo jeito. E puft! Noto que sou capaz, e que o novo jeito me ajuda, facilita minha vida. Percebo que posso treinar um pouco mais e ficarei habilidosa. Mas frequentemente preciso encontrar formas de me desapegar de velhos padrões e calar as vozes internas que sempre tem mil razões para justificar que apesar de serem experiências incríveis – as virtuais – não tem o mesmo efeito que o aprendizado presencial.
Esta resistência é algo natural e tem uma função de proteção da nossa psiquê, pois não seria funcional para os seres humanos mudar a cada vento que sopra. No entanto, quando desejamos aprender algo novo, quando queremos que a mudança aconteça, é fundamental estarmos atentos aos nossos movimentos internos, justo para não nos boicotarmos. Caso contrário, reforçamos aquela máxima que diz: todos querem mudança, mas ninguém quer mudar.
Tem sido muito interessante observar em mim estes movimentos de resistência, em especial neste contexto veloz de mudanças e adaptações que estamos vivendo, pois me ajuda a estar mais atenta e empática com os processos daqueles que vão aprender algo junto comigo, a partir das minhas propostas. Além disso, todo esse movimento tem me ensinado dia após dia sobre essa habilidade que será cada vez mais exigida de nós neste mundo complexo, ambíguo, incerto: aprender a aprender. Pensamento flexível, abertura para o novo, estar disposto a renunciar a conceitos, desapegar, perder as discussões, aceitar que alguns modelos já não servem mais, são apenas algumas das capacidades que precisam estar presentes para nos permitir aprender a aprender.
Como tem sido esse processo de aprender a aprender na sua vida?