Como gerenciar a Percepção de Riscos?

A percepção de riscos é um termo frequentemente utilizado nas organizações e se tornou um dos grandes vilões do contexto de segurança, quase desbancando o bom e velho “comportamento”. Apesar de todo conhecimento técnico disponível acerca do termo, somente depois de muito tempo de trabalho no campo da psicologia da segurança foi possível notar que aplicar este conhecimento na realidade das organizações é um grande desafio.

Considerava que a maior parte dos líderes e dos trabalhadores apresentavam repertório (considerando o conhecimento e a habilidade desenvolvido dentro da própria empresa) e capacidade para conseguir perceber os riscos que enfrentam todos os dias e a partir disso poderiam controlá-los. No entanto, recentemente após o desenvolvimento de um projeto focado no alinhamento das percepções sobre perigos e riscos, ficou evidente que o baixo conhecimento sobre conceitos base da segurança do trabalho é uma das principais barreiras para que todos possam perceber e controlar os riscos no seu contexto de trabalho.

O gerenciamento e controle de riscos é uma obrigação da empresa e um direito de todos os trabalhadores que se expõem a perigos diariamente. Nesse sentido, sem a pretensão de esgotar as possibilidades de ações que podem ser realizadas por uma empresa para gerenciar os riscos, serão apontados alguns caminhos possíveis para os líderes, que são os principais agentes de mudança:

 

1) Conhecer os perigos, os riscos e alinhar a percepção de riscos

O primeiro caminho para gerenciar adequadamente os riscos é tentar compreendê-los com todos os vieses que apresenta. Para tanto, é importante que as pessoas equalizem o movimento natural de compensação de riscos – que é uma tendência do ser humano em diminuir o seu nível de atenção e cuidado à medida em que se sente seguro diante de um perigo – buscando interpretar os perigos a partir de todo o conhecimento e habilidade desenvolvido ao longo do tempo de trabalho e da atual expectativa da empresa sobre a forma como seus empregados devem interpretar perigos e riscos.

É preciso encarar o fenômeno do risco de frente, com olhos abertos e inteligência atenta para se proteger da maneira mais consciente possível. Para isso, a empresa deve ter a certeza de que conhece os perigos e riscos das atividades e as melhores formas de controle, além de frequentemente conversar sobre isso com seus empregados para equiparar o modo como devem interpretar os riscos. Isso pode ser feito de várias maneiras, contudo, a mais importante é a empresa compreender como o empregado percebe o risco, para que tenha um ponto de partida factual.

Parece ser um caminho muito simples. No entanto, muitas empresas pecam porque consideram que realizar um único alinhamento de percepção com o trabalhador e com a liderança é suficiente. Assim, não fomentam diálogos com a frequência necessária para deixar vivo na memória dos empregados os perigos, riscos e seus devidos controles, de forma séria e persistente.

 

2) Discutir e expressar o nível de tolerância a riscos

Os líderes são agentes de transformação e, como tal, devem ser modelos do comportamento esperado para sua equipe. Isso não é novidade para ninguém! No entanto, ser exemplo quer dizer que em todos os momentos em que estiver com um ou mais integrantes do seu grupo, o líder deve transmitir segurança; não pode titubear. Nas mínimas decisões, seus empregados precisam notar que está preocupado com a maneira segura de fazer as coisas, afinal essa coerência é esperada por todos.

Conversar frequentemente com seus empregados sobre os limites de tolerância para os comportamentos de risco e as possíveis consequências para o descumprimento, é um caminho possível para alinhar a percepção sobre os riscos. O mais importante, no entanto, é que a liderança nunca ignore quando nota alguém agindo de forma arriscada. A atuação imediata dos líderes sobre comportamentos de risco é o que vai oportunizar que todos passem a interpretar que não devem se expor mesmo aos pequenos riscos, os de menor gravidade. Isso gera credibilidade aos líderes e tangibiliza a importância de agir de forma segura diante de qualquer tipo de risco.

 

3) Cuidar dos 4 fatores de influência

Os quatro fatores de influência da percepção de riscos devem ser frequentemente observados pela liderança de uma empresa, de modo a entender se estão favoráveis ao comportamento seguro. Do ponto de vista fisiológico é importante avaliar desde a estrutura de atendimento às necessidades básicas dos empregados (alimentação, banheiros, bebedouros, área de descanso, portaria, transporte, até questões de requisitos para atendimento das atribuições do cargo).

No que se refere a aspectos sociais, ter o cuidado de propor alinhamentos constantes entre práticas e análises críticas sobre o comportamento dos líderes e de seus subordinados. Muitas vezes os líderes se inquietam com as condutas inadequadas de seus empregados sem perceber que, no fundo, a prática deles reflete as do seu superior imediato, ou seja, é fruto dos exemplos e/ou omissões do seu líder.

No que tange aos processos de aprendizagem, parte do fator cognitivo de influência, deve-se ter certeza de estar utilizando metodologias apropriadas ao público adulto para que haja maior eficiência no resultado esperado: mudança de comportamento.

Por fim, os aspectos psicológicos – que têm mais interveniência do próprio empregado, mas nem por isso são menos importantes. É preciso estar atento ao quanto aspectos mais particulares podem estar interferindo na melhoria e na adequação dos comportamentos dos empregados.

 

4) Descobrir as recompensas dos riscos

Outro aspecto que deve ser investigado pelos líderes para melhor alinhar as percepções sobre os perigos na área está relacionado com as recompensas que um comportamento de risco normalmente traz aos indivíduos ou à organização. É comum escutar que o risco deve ser zero; no entanto, todas as atividades apresentam um risco que precisa ser entendido e controlado.

Muitas vezes, uma ação arriscada representa recompensas para aquele indivíduo. Mas, quando se tem a mentalidade que o risco só tem um lado “mau”, perde-se a oportunidade de investigar melhor os ganhos que esse tipo de comportamento gera e, com isso, a possibilidade de atuar sobre tais fatores de recompensa, de modo a reduzir os riscos.

Compreender que o trabalho com a percepção de riscos deve ser minucioso e constante para que se obtenha comportamentos seguros, seja por meio das ações sugeridas aqui neste texto ou de outras intervenções, é fundamental para gerar sustentabilidade aos resultados de saúde e segurança das organizações.

 

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