Como manter a percepção de riscos ativa?
Você certamente já viveu uma situação de começar a praticar academia, alcançar alguns resultados nos três primeiros meses e logo em seguida viver uma situação de estagnação, que muitos chamam de platô: mesmo seguindo com a rotina alimentar adequada e realizando a mesma rotina de exercícios, você não consegue mais ver os impactos no seu corpo. E para voltar a ter resultados, é necessário dar um novo estímulo ao organismo: alterando a alimentação e modificando o tipo de atividade que realizamos para ativar novos grupos musculares com intensidades e frequências diferentes.
Essa é uma boa metáfora para entendermos como funciona a nossa capacidade de perceber os riscos que estão presentes no nosso trabalho e na vida cotidiana. À medida em que deixamos de receber estímulos para tentar enxergar as ameaças que podem estar presentes, a nossa capacidade perceptiva também vai se acomodando com o cenário em que estamos inseridos.
A percepção é um fenômeno dinâmico da nossa psique.
Ela que recebe influência do ambiente físico e relacional que estamos inseridos, do nível de conhecimento que a pessoa tem para atuar em determinada situação ou atividade, bem como do estado físico e emocional que cada pessoa se encontra.
E, ao mesmo tempo, o funcionamento natural do nosso cérebro está sempre em busca de gastar o mínimo de energia. Portanto, tende a buscar homeostase – que é um nível de operação confortável para o organismo. Sempre é mais fácil e mais econômico atuar dentro de um “modus operandi” conhecido. O grande problema é que esse nível de conforto pode trazer também um nível de apatia para conseguir identificar o que pode acontecer de errado dentro dos ambientes e situações que vivemos.
Nesse sentido, para que seja possível trazer “oxigênio” para a percepção de forma que estimule a identificar de forma mais frequente as possíveis ameaças, é essencial que na rotina de trabalho existam algumas ações que façam as pessoas pensar e refletir de forma diferente sobre aquele contexto em que estão inseridas. Isso pode ser feito de diferentes maneiras:
Frequência de estímulos
Variar a frequência com que abordamos o tema de percepção de riscos é uma das formas de trazer o frescor necessário para a nossa percepção. Sempre que estabelecemos que uma ação acontecerá com uma frequência regular, ela corre o risco de cair num automatismo e conforto do nosso sistema cerebral e perder a função de despertar ou chamar nossa atenção para itens que são importantes e ameaçadores no cotidiano. Então é sempre interessante variar a frequência de estímulos sobre as atividades para reavivar a percepção. Fazer ações pontuais de alta intensidade e impacto na realidade das pessoas parece ser algo bastante funcional do ponto de vista da percepção de riscos.
Uma das formas de variar a frequência de estímulos é programar ações específicas e pontuais para datas que comumente tiram a atenção das pessoas, como vésperas e retorno de feriados prolongados, férias coletivas e datas comemorativas (Carnaval, Natal, Ano Novo, Páscoa e outras datas). Variar a forma de abordagem também é importante: realizar rodas de conversa, gincanas, jogos, interações entre equipes e troca de postos de trabalho por um dia são algumas ideias para puxar o foco de atenção. A criatividade aliada a muito planejamento e cuidado pode ser uma importante fonte de estímulo para a percepção de riscos. Tudo isso em um ambiente que seja seguro psicologicamente para que as pessoas possam se permitir refletir e trocar conhecimentos e experiências.
Intensidade das Ações
Intensificar a realização de ações que já são habituais dentro da organização também pode ser um estímulo diferente para as pessoas: aumentar o tempo da reunião matinal e aprofundar e ampliar o compartilhar de casos e experiências que deram errado e que envolvem a realização de determinada atividade é uma ótima forma de fazer isso. Intensificar a realização de abordagens comportamentais durante uma semana, também pode ser uma estratégia para dar esse estímulo necessário para revigorar a percepção de riscos de diferentes atores dentro da organização: própria liderança, especialistas, analistas, técnicos e operacionais.
Temas e Atividades abordadas
Quais são os temas frequentes em que as pessoas apresentam dificuldades de identificar ameaças e controlar adequadamente os riscos?
Por exemplo: em atividades de içamento de carga meu grupo tem tido um comportamento frequente de não isolar a área ou de colocar a mão na carga.
Esta pode ser uma atividade que recebe maior atenção durante uma semana, sendo trabalhada como tema de diálogos diários, recebendo visita de especialistas para olhar a atuação do grupo nesta atividade, realizando quiz sobre conhecimento do grupo sobre o procedimento operacional, etc. Este é somente um exemplo que pode ser melhor estruturado e ampliado com criatividade, de acordo com as necessidades mapeadas dentro de grupos específicos de trabalho. Quanto mais variadas forem as estratégias de atuação, os temas e as atividades abordadas, maior será a eficiência para trabalhar a percepção de riscos das pessoas.
Espero que estas dicas possam apoiar a pensar em formas diferentes e lúdicas que façam sentido dentro do seu contexto organizacional, para seguir fomentando essa habilidade essencial das pessoas em perceber os riscos que elas enfrentam todos os dias em diferentes atividades laborais, seja no ambiente fabril ou escritório.